O nosso lugar ao sol precisa ser brilhante de verdade

 O nosso lugar ao sol precisa ser brilhante de verdade
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Por Elsa Oliveira

 

Li que a Fuvest, o maior vestibular do país, que seleciona alunos pra melhor universidade do país, após anos exigindo como leitura obrigatória autores majoritariamente homens, anunciou que resolveu alterar a sua lista dessas leituras a partir da edição que será realizada em 2025, para ingresso na faculdade em 2026.

Pela primeira vez na história todos os livros que serão cobrados no exame serão de autoria feminina. Isso se repete nas listas de obras exigidas pela Fuvest no exame de 2026 e 2027. Só em 2028, o nome de autores homens como Machado de Assis, Luís Bernardo Honwana e Érico Veríssimo voltam a figurar na lista, mas, ainda assim, em menor quantidade do que os de mulheres.

Segundo a Fuvest, a mudança tem o objetivo de valorizar o papel das mulheres na literatura, não apenas como personagens, mas como autoras que tiveram ou têm sua importância no lugar onde deveriam estar nos últimos anos. E eu concordo em gênero, número e grau.

Na mesma linha, a 21ª edição da Feira Literária Internacional de Paraty, um dos mais tradicionais eventos culturais do país, esse ano prestou homenagem à escritora Patrícia Rehder Galvão, a Pagu. Ao celebrar uma das principais autoras feministas e vanguardistas do seu tempo, o evento ganha um forte tom em defesa do papel da mulher na sociedade mundial.

Esses dados me inspiraram a dar uma pesquisada sobre como o mercado vêm se comportando no que diz respeito à valorização da mulher para além da literatura.

E eu me animo com o que eu li!

No serviço público a mulher também vem obtendo algum destaque. Se levarmos em conta o governo federal, cujo exemplo é mais amplo, a participação de mulheres em cargos de alta liderança na administração pública aumentou de 29%, em dezembro de 2022, para 34%, em abril de 2023, o que representa crescimento de 17%, em quatro meses.  Na política, o avanço também aconteceu. Na eleição de 2022 o número de mulheres candidatas chegou a 33,27% do total de candidaturas. Em 2014 esse percentual foi de 30,99%. Se o recorte for por um cargo específico, como o número de deputadas, por exemplo, o aumento de mulheres eleitas na última eleição foi de 17%.

No setor privado as coisas também caminham, ainda que a passos curtos. A participação feminina em cargos de chefia no mundo empresarial vem crescendo no Brasil, de acordo com a pesquisa Panorama Mulheres 2023, elaborada pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e pelo Talenses Group. O resultado do estudo mostrou que o papel das mulheres tanto nas presidências de empresas quanto em outras posições de alta liderança no país saltou de 13% para 17% entre 2019 e 2022.

Claro que essas são pequenas amostragens de como as mulheres vêm conquistando, ainda que lentamente, seu lugar ao sol. E o sol precisa mesmo brilhar para todos. E para TODAS!

Mas daí a gente se depara com a realidade que faz o coração apertar. Precisamos, então, combater uma outra estatística que atinge diretamente as mulheres e que, infelizmente, só cresce: a da violência doméstica.

O dia 25 de novembro é reconhecido como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e, para marcar a data, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou, na última semana, dados referentes aos crimes de homicídio doloso, feminicídio, estupro e estupro de vulnerável contra meninas e mulheres do primeiro semestre de 2023. Os registros de feminicídios e de homicídios femininos cresceram 2,6% no Brasil no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já os registros de estupros e de estupros de vulnerável deram um salto de 14,9%. Em números absolutos, 34 MIL MULHERES foram vítimas desse crime. Do total de casos de estupros, 70% tiveram MENINAS de até 13 anos como vítimas.

Esses indicadores precisam baixar! Esperamos e torcemos por uma mudança comportamental da sociedade, mas sabemos que o Estado também precisa cumprir o papel de proteger suas mulheres e meninas. Em Osasco, mais um Centro de Referência da Mulher Vítima de Violência acabou de ser inaugurado e é por este tipo de política pública que nós ansiamos e lutamos. Por mais recursos voltados ao combate da violência contra a mulher, pelo desmonte dos movimentos ultraconservadores com pautas antigênero e pela punição urgente e necessária de agressores.

Para que nosso lugar ao sol seja, de verdade, brilhante!

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