O que o assassinato da Santrosa, mulher trans e suplente de vereadora em Sinop, nos diz?

 O que o assassinato da Santrosa, mulher trans e suplente de vereadora em Sinop, nos diz?
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Por Elsa Oliveira

Abri os sites de notícia e me deparei com a informação de que uma mulher trans de apenas 27 anos foi assassinada em Sinop, no estado do Mato Grosso. Ela estava desaparecida desde o sábado, e seu corpo foi encontrado no domingo com braços e pernas amarrados, em uma região de mata na cidade pela qual concorreu a um cargo público nas últimas eleições e onde pretendia defender a cultura como sua principal bandeira. Santrosa era artista e militante da causa.

O crime pode ter tido duas motivações: a transfobia ou a violência política de gênero. Ela pode ter sido assassinada, inclusive, pelas duas causas.

A violência política de gênero é uma forma de violência que atinge, de maneira específica, mulheres e pessoas que se identificam com o gênero feminino, devido ao seu envolvimento em processos políticos e sociais. Trata-se de um fenômeno complexo, que vai além de agressões físicas ou verbais, envolvendo uma série de práticas que buscam deslegitimar, silenciar ou controlar as mulheres em sua atuação política. Esse tipo de violência tem sido uma realidade cada vez mais evidente no cenário político contemporâneo, especialmente em contextos onde a desigualdade de gênero se alia a sistemas de poder patriarcais.

Nosso contexto histórico de desigualdade contribui para a construção de um ambiente no qual a participação política das mulheres é não apenas desvalorizada, mas também combatida. E em muitas vezes, esse combate chega ao extremo e culmina na morte de militantes, ativistas e mulheres que se “atrevem” a encarar o sistema misógino em que vivemos e se candidatam a cargos eletivos, sabendo que sua integridade física e psicológica estão em risco. A percepção de que mulheres não devem ocupar espaços de liderança, somada à resistência à mudança das normas sociais, resulta em um cenário de violência, cuja finalidade é impedir o avanço de uma maior equidade de gênero no campo político.

Soma-se a isso o preconceito que a comunidade LGBTQIAP+ sofre, cotidianamente. Nosso país lidera o ranking de países que mais matam pessoas desta comunidade, sendo a maioria de mortes de pessoas trans.

O impacto de tanta violência é devastador não apenas para as vítimas, mas para a democracia e para os direitos humanos em geral. Em primeiro lugar, ela impede que exerçamos plenamente nossos direitos políticos, como a liberdade de expressão e a liberdade de participação política. O medo da violência pode fazer com que muitas desistam de se envolver na política, perpetuando o ciclo de exclusão e marginalização.

Além disso, a violência política de gênero tem um efeito negativo sobre a qualidade da democracia. A participação política das mulheres trans ou não, é essencial para a construção de políticas públicas que atendam às necessidades de toda a população. Quando as mulheres são silenciadas ou excluídas, perde-se uma perspectiva importante nas discussões e decisões políticas. Isso significa que as questões de gênero, como saúde, educação e violência doméstica, muitas vezes não recebem a devida atenção.

Além disso, a violência política de gênero também afeta a imagem da política como um espaço seguro e acessível a todos os cidadãos. Ela pode gerar uma cultura de intolerância e polarização, onde a divergência de opiniões se transforma em ataques pessoais e agressões. Isso compromete a qualidade do debate político e enfraquece os mecanismos de construção coletiva da sociedade.

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