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Osasco debate preconceito religioso e desafios das religiões de matrizes africanas
Sessão Solene na Câmara promoveu encontro plural para reflexão sobre o tema
Uma noite de axé e análise sobre o papel das religiões de matrizes africanas na sociedade brasileira. Assim foi a Sessão Solene em atenção à Lei 4.785/2016, realizada na noite desta quarta-feira (29), na Câmara Municipal de Osasco.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O encontro, organizado pela vereadora Juliana da AtivOZ (PSOL), reuniu representantes da Câmara, Prefeitura, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Apeoesp, além de lideranças religiosas afro-brasileiras, africanas, ameríndias e evangélicas.
Presidida pela vereadora Juliana, a solenidade foi secretariada por Higor Andrade, membro da Mandata AtivOZ. Também compuseram a Mesa Diretora dos trabalhos a secretária-executiva de Políticas da Promoção da Igualdade Racial de Osasco (Sepir), Amanda França; a Mãe Luciana d´Ogum; e Rosângela d´Oxum – lideranças religiosas de matrizes africanas.
Além de fomentar o debate sobre os principais desafios enfrentados pelos praticantes das religiões de matriz africanas, a Sessão Solene trouxe esperança para essas pessoas, com a divulgação da primeira fase do mapeamento das comunidades tradicionais de matriz africana de Osasco.
De acordo com Amanda França, a segunda etapa será retomada no mês de agosto. “A Sepir tem trabalhado com um olhar muito apurado para o fortalecimento das casas de axé. Queremos valorizar, fortalecer e dar aberturas. É um trabalho de sensibilização”, explicou.
Segundo Elisa Vidal, da Sepir, a primeira etapa mapeou 50 casas de axé. Ela define as comunidades tradicionais de terreiros como espaços legítimos de “resistência, identidade, pertença e fortalecimento” da cultura ancestral negra.
Elisa acredita que o trabalho de mapeamento é parte de um processo de construção coletiva de políticas públicas para o setor, a partir da perspectiva de quem está no chão do terreiro.
Somando-se a essas ações, Amanda França reforçou também a importância da criação de um fórum interreligioso municipal, dentro das políticas públicas propostas. “Vai ser um instrumento importantíssimo de diálogo”, acrescentou.
Regularização dos Terreiros
Os advogados Silvio Neves e José Messias dos Santos Oliveira, da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB Osasco, passaram informações sobre a regularização dos terreiros.
“Não há nenhum prejuízo em uma casa de Oxum buscar a regularização; quando você regulariza, você dá voz, dá poder”, defendeu Messias.
Silvio Neves, que é pastor evangélico, reforçou o direito constitucional à manifestação de fé. “Somos brasileiros e temos liberdade de manifestar a nossa fé, seja ela qual for”.
Proprietário da casa de artigos religiosos Origem da Fé, em Osasco, o comendador Rafael Jorge também defendeu a regularização dos terreiros. “Minha vida é em torno do povo de matriz africana e essa regularização é para gente mostrar quem a gente é para a sociedade”, declarou.
Preconceito Religioso
A solenidade foi espaço de partilha sobre o preconceito religioso. A vereadora Juliana da AtivOZ falou sobre a alegria de reunir tantas pessoas para falar do amor – proposta das religiões de matrizes africanas e demais credos.
“Hoje eu só vi amor aqui, não vi desesperança em momento algum. O estado laico quer dizer que você pode professar a sua fé, mas isso não pode influenciar as decisões políticas”, justificou.
Representando a cidade de Itapevi, Ana Laura de Iemanjá falou sobre a opressão sofrida pelo povo negro, desde os tempos da escravidão. “Quando veio a Lei Áurea, não deram terra, não deram comida. A gente teve que ocupar os espaços por força nossa”, contextualizou.
O onixangô Douglas, sacerdote do culto oiurubá e membro do candomblé, defendeu a ocupação de espaços públicos como instrumento de afirmação do papel do negro na sociedade. “Enquanto ninguém entender que o candomblé existe porque éramos negros dentro da senzala, não vou sossegar”.
Evangélica e membro do coletivo Juntas por Barueri, Rose Soares lamentou que a Bíblia venha sendo deturpada no ambiente político e defendeu a união entre os povos e religiões. “No que depender de vocês, façam todo possível para viver em paz com todas as pessoas”.
Membro da Mandata AtivOZ, Higor Andrade evidenciou a discrepância entre a escalada do preconceito na política e a laicidade do estado, que deveria garantir a liberdade de culto no país. “Deus acima de todos não, porque o estado é laico”, defendeu.
Na parte musical, a solenidade contou com as apresentações da cantora Carol Seixas, da instrumentista Ju Guilherme e do Pai Tato.
A Lei 4.785/2016 institui, no Calendário Oficial de Osasco, a Semana das Religiões de Matrizes Africanas, a ser comemorada anualmente, entre os dias 4 e 10 de julho. A legislação foi criada pela então vereadora Maria José Favarão.