Será que ele mente?

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Infelizmente temos o péssimo hábito de mentir. Fizemos ou fazemos isso em algum momento na vida, seja para se livrar de uma bronca, obter algum benefício ou evitar machucar uma terceira pessoa, ações, até certo ponto, vistas como aceitáveis. Porém não torna a mentira algo benéfico no convívio social.

Contudo, existem pessoas que extrapolam esse limite da aceitação – da mentira tolerável –, e integram ela ao seu estilo de vida, como se não fosse possível fazer algo sem mentir. O que pode levar a compulsão, fazendo com que a pessoa acabe perdendo a capacidade de agir sem mentir.

Comecei falando sobre mentira, pois no dia 23 de março de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em rede nacional mudando o tom do discurso negacionista que sempre teve no combate à pandemia de Covid-19. Em pouco mais de dois minutos de vídeo, ele leu um discurso feito sob medida, pela assessoria do Planalto, para mudar a imagem de quem chamou a pandemia de “gripezinha”, e que havia afirmado que não compraria a vacina produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, “o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar a vacina também não, tá ok?”

Por meio de frases prontas, o presidente fez questão de enfatizar a campanha de vacinação, explicando algo que até então não demostrava nenhuma afeição. Além de ter lamentado o número óbitos no dia em que o Brasil superou pela primeira vez a marca de três mil mortos.

Relatos na pandemia

Apesar do esforço tardio do presidente em reconhecer o seu papel na pandemia, não podemos esquecer que o discurso dele sempre foi outro:

“Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro sobre a compra da vacina Coronavac (O Globo, 21 de outubro de 2020).

“Não compraremos a vacina da China”, diz Bolsonaro em rede social (G1, 21 de outubro de 2021).

Vacina chinesa não transmite segurança “pela sua origem” diz Bolsonaro (InfoMoney, 22 de outubro de 2020).

“Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, diz presidente sobre suspensão de testes da CoronaVac (G1, 10 de novembro de 2020).

Essa é uma pequena amostra do quanto o pronunciamento do presidente tenta esconder as verdades que ele sempre falou. Por isso, sem um pedido de desculpas, a sua fala na última terça-feira soa como mais uma fala duvidosa em seu histórico presidencial.

Como falando no início, a mentira pode ser usada para encobrir pequenos desvios de conduta, mas ela não deve ser um mecanismo que um presidente da república deva usar no dia a dia. Me desculpe, enquanto ele não reconhecer que o seu governo errou na condução da pandemia, ainda sigo achando que ele mente!

E mentira no cargo que ele ocupa não poder algo tolerável.

 

Marcelo Damasceno

Fotos: Imagem disponível no Google

 

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