Reality Shows: Espelho ambíguo da sociedade.

 Reality Shows: Espelho ambíguo da sociedade.
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Gostando ou não do gênero não há como negar a influencia que esses programas causam no inconsciente coletivo.

Muito se especulou sobre a baixa audiência e a falta de interesse nesses formatos, mas 2020 tem sido o ano em que eles voltaram a se destacar expressivamente na TV paga e na TV aberta e estão rendendo altos índices de audiência no Brasil e no mundo.

Os realities shows são vistos como um produto pronto, uma forma de entretenimento para atender as expectativas da sociedade contemporânea em relação ao que ela quer ver na televisão, mas muitas vezes geram discussões sobre temas culturais mais amplos e muito se questiona sobre o que agregam na vida das pessoas de forma positiva ou negativa.

A curiosidade a respeito da vida alheia existe desde os primórdios da humanidade e os realities proporcionam que se viva em um mundo paradoxal, aonde o espectador apesar de saber o poder de controle que a mídia possui, se entrega de forma latente as esses programas, seguindo os participantes nas redes sociais e vivendo como se também fizesse parte daquilo.

O público demonstra essa ambiguidade, gerando a evidente influência desses programas na sociedade, pois ao mesmo tempo em que deseja guardar sua própria privacidade, fica-se satisfeito ao invadir e explorar a vida alheia. Retomando assim a metáfora do “Grande Irmão”, a diferença é que no lugar de um assistindo a todos, todos querem ser invisíveis e ter acesso á vida alheia.  Tais programas tem a característica comum em prender a atenção do espectador, aguçando a sua curiosidade para que o mesmo fique preso ao desenrolar da história diante de um acontecimento que será esquecido num curto período de tempo.

Por mais que os realities shows sejam roteirizados e muitos dos acontecimentos dependam do desejo de seus produtores, não há como negar que as pessoas acabam mostrando o máximo de vulnerabilidade atraindo assim ainda mais a atenção do publico que faz julgamentos de todos os tipos.  A busca pela independência financeira, por um novo amor, se descobrir um cantor ou um cozinheiro cobra um preço alto de quem a almeja.

O conteúdo exibido costuma mostrar o comportamento humano explicito, com seus erros e acertos, sendo assim pontos positivos e negativos podem ser absorvidos. A nos fica a dúvida sobre o que realmente chama a atenção nisso, gostamos de consumir um entretenimento que não tem muito a acrescentar, para cuidar da vida alheia e nos comparar?

Ou somos viciados em voyeurismo por extensão? Que é uma forma de curiosidade mórbida com relação ao que é privado, privativo e intimo. Comparar o consumo desses programas com o termo voyeurismo parece exagerado, mas é o que acontece de fato.

Assistimos sem desgrudar os olhos da tela participantes fazendo coisas comuns do dia a dia. Há quem diga que nos sentimos representados pelos gostos, feitos e jeitos de ser dos participantes.  Outro ponto pode ser a alienação que nos mantém afastados de nós mesmos e ligados ao mundo, nos comparando com o outro e ao consumir a vida alheia suprimos esse vazio ou gerando em nós a frustração por não conseguir alcançar padrões intransponíveis, principalmente os físicos sempre tão expostos nesse meio.

Além disso, o consumo dos realities tem o potencial de se tornar nocivos aos expectadores quando há um grau de envolvimento maior do que o normal, a ponto de criar fã-clubes, induzir votações em massa e até mesmo brigar a favor ou contra por um participante.

Para John De Mol, fundador da Endemol e criador do Big Brother e do The Voice “os reality shows são o espelho da sociedade. Mostram pessoas que você reconhece que estão na rua e sempre traz a pergunta: como você reagiria a essa situação? Em relação ás críticas ressalta que se você vê algo que não gosta, apenas troque de canal, há uma questão de diferença de gerações. No inicio do Big Brother, foram recebidas críticas de pessoas que nem sabiam do que o programa tratava. É o mesmo que aconteceu com Elvis Presley, Rolling Stones e Beatles. Eles eram muito populares com os mais novos e os mais velhos que eram imorais. O novo é sempre criticado e nunca se pode agradar a todos”. Segundo Jhon, o Big Brother trouxe os mais jovens de volta para a TV.

Nesse contexto entendemos que a vontade de acompanhar a vida alheia acaba sendo natural do ser humano, como uma curiosidade despertada como consequência da sociedade em que vivemos. Alienar-se e assistir a conteúdos que na teoria não nos acrescentam culturalmente pode acabar sendo uma surpresa e trazer questões sobre a nossa postura como seres humanos. Nem sempre é de todo mal focar na vida das pessoas como forma de entretenimento se baseando no discernimento desde que seja permitido por elas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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