É hora de mudar a estratégia para combater à desinformação

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A era das redes sociais possibilitou uma comunicação remota, ágil e mais barata, um empoderamento comunicacional nunca antes vivido no mundo. Porém, parece que esse empoderamento estar nos levando para um caminho de desinformação, em alguns casos com uma difícil perspectiva de volta.

Em uma rápida cronologia sobre a relação das pessoas com as redes sociais, é possível ver que elas foram fundamentais em movimentos sociais e políticos. Para ficar apenas em alguns exemplos, destaco a Primavera Árabe (2010), onde as redes sociais desempenharam um papel considerável na organização dos movimentos contra a ditadura nos países árabes; pelo Twitter, Renê Silva (2010) informou ao mundo cada passo da operação policial no Complexo do Alemão – Rio de Janeiro (RJ); a onda de protestos no Brasil, conhecida como “Junho de 2013”, teve as manifestações de ruas organizadas pelas redes sociais. Eventos que mostram a força das redes para disseminar uma mensagem e arregimentar pessoas.

Contudo, essa força também vem sendo usada para disseminar mentiras, boatos e notícias falsas, que também são conhecidas como fake news. Um fenômeno que tem colocando à prova o sentido que temos de verdade, além de reforçar a queda de confiança do cidadão nas instituições, como a imprensa, os órgãos públicos, a universidade e as fontes técnicas.

Segundo dados do Massachusetts Institute of Technology, uma fake news postada nas redes sociais tem 70% mais chances de viralizar, enquanto uma postagem verdadeira alcança, em média mil pessoas, as falsas atingem de mil a 100 mil. Os números são assustadores, ainda mais quando, no Brasil as redes estão entre os cinco principais meios usados pelas pessoas para se informar. O levantamento do Data Senado (2020) aponta o WhatsApp como o principal meio com 64%, seguindo pela televisão com 58%, sites de notícias 39%, Facebook 35% e Youtube 32%.

Os números mostram o quanto uma pessoa pode ser bombardeada por conteúdos falsos. Algo que preocupa as pesquisadoras Fernanda Bruno e Tatiana Roque, uma vez que “a confiança está sendo minada nas redes sociais, com novas crenças e novos valores que contestam o método científico e desafiam consensos há tempos estabelecidos”. Ação que pode influenciar pessoas por meio da produção de notícias falsas.

Esse avanço desinformacional nas redes sociais apresenta um verdadeiro risco, uma vez que ele perpassa valores consolidados e respaldados pela ciência, imputa um descrédito aos órgãos públicos e incendeia os feeds das pessoas com debates acalorados. Ações que nos atola ainda mais em um pântano digital de mentiras.

Os dados e o apontamento das pesquisadoras indicam que as instituições e os órgãos públicos precisam mudar a estratégia. Além de buscar desmentir as inverdades, se faz necessário reapresentar verdades comprovadas, apresentar as fontes e promover um letramento midiático, pois contra-atacar a desinformação pode ser uma ação lenta perto da velocidade que uma desinformação ganha nas redes. Se não mudarmos a estratégia, seguiremos secando gelo.

Marcelo Damasceno – é jornalista, especialista em ciência política contemporânea, mestrando em comunicação social e integrante dos Grupos de Pesquisa Semio Humanistas e HumanizaCom.

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